Manchineri

terça-feira, 8 de junho de 2010

Belo Monte - Amor aos Índios e a Biodiversidade


Belo Monte é de longe um grande projeto de pequena inteligência. A região de implantação da Usina engloba uma imensa Fauna e Flora. De acordo com o EIA são apontadas 174 espécies de peixes, 387 espécies de répteis, 440 espécies de aves, 259 espécies de mamíferos, dentre as citadas algumas endêmicas e outras em extinção.

Segundo o grupo de ictiólogos do Painel dos Especialistas, um alerta para as o impacto sobre a fauna aquática, peixes e quelônios, no trecho de vazão reduzida (TVR) do Rio Xingu, que afeta cerca de 100 Km de rio, demonstrando a inviabilidade do ponto de vista ambiental do projeto.

Segundo os pesquisadores - "A bacia do Xingu apresenta significante riqueza de biodiversidade de peixes, com cerca de quatro vezes o total de espécies encontradas em toda a Europa. Essa biodiversidade é devida inclusive às barreiras geográficas das corredeiras e pedrais da Volta Grande do Xingu, no município de Altamira (PA), que isolam em duas regiões o ambiente aquático da bacia. O sistema de eclusa poderia romper esse isolamento, causando a perda irreversível de centenas de espécies."

"Questão cultural e impactos da obra sobre as populações indígenas: O projeto tem desconsiderado o fato de o rio Xingu (PA) ser o ‘mais indígena’ dos rios brasileiros, com uma população de 13 mil índios e 24 grupos étnicos vivendo ao longo de sua bacia. O barramento do Xingu representa a condenação dos seus povos e das culturas milenares que lá sempre residiram. O projeto, aprovado para licitação, embora afirme que as principais obras ficarão fora dos limites das Terras Indígenas, desconsidera e/ou subestima os reais impactos ambientais, sociais, econômicos e culturais do empreendimento. Além disso, é esperado que a obra intensifique o desmatamento e incite a ocupação desordenada do território, incentivada pela chegada de migrantes em toda a bacia e que, de alguma forma, trarão impactos sobre as populações indígenas."

"Como já exposto, o Trecho de Vazão Reduzida afetará mais de 100 km de rio e isso acarretará em drástica redução da oferta de água. Os impactos causados na Volta Grande do Xingu, que banha diversas comunidades ribeirinhas e duas Terras Indígenas – Juruna do Paquiçamba e Arara da Volta Grande, ambas no Pará -, serão diretamente afetadas pela obra, além de grupos Juruna, Arara, Xypaia, Kuruaya e Kayapó, que tradicionalmente habitam as margens desse trecho de rio. Duas Terras Indígenas, Parakanã e Arara, não foram sequer demarcadas pela Funai. A presença de índios isolados na região, povos ainda não contatados, foram timidamente mencionados no parecer técnico da Funai, como um apêndice. A noção de afetação pelas usinas hidrelétricas considera apenas áreas inundadas como “diretamente afetadas” e, por conseguinte, passíveis de compensação. Todas as principais obras ficarão no limite das Terras Indígenas que, embora sejam consideradas como “indiretamente afetadas”, ficarão igualmente sujeitas aos impactos físicos, sociais e culturais devido à proximidade do canteiro de obras, afluxo populacional, dentre outros. O EIA desconsidera ou subestima os riscos de insegurança alimentar (escassez de pescado), insegurança hídrica (diminuição da qualidade da água com prováveis problemas para o deslocamento de barcos e canoas), saúde pública (aumento na incidência de diversas epidemias, como malária, leishmaniose e outras) e a intensificação do desmatamento, com a chegada de novos migrantes, que afetarão toda a bacia."

Fonte: Resumido de Envolverde/SOS Mata Atlântica
© Copyleft – É livre a reprodução exclusivamente para fins não comerciais,
desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.

http://www.problemasambientais.com.br/impactos-ambientais/hidreletrica-de-belo-monte-impactos-ambientais/

terça-feira, 25 de maio de 2010

2010 - Ano Internacional da Biodiversidade - EU PROTEJO!


"...Sua qualidade de Vida depende da Vida do Planeta. CUIDE, PRESERVE!"



A Biodiversidade está intimamente ligada a nós, mesmo que seja um conceito de difícil aplicação no nosso cotidiano, já que a velocidade que as coisas e informações acontecem, muitas vezes, acabam atropelando nosso próprio tempo.

"Você é a Biodiversidade A maior parte do oxigênio que respira é proveniente do plânction dos oceanos e das florestas frondosas de todo o mundo.

Provavelmente, as frutas e as verduras que come foram polinizadas por abelhas e a água que bebe faz parte de um grande ciclo global no qual você está incluído, assim como as nuvens, as selvas, as geleiras, os rios e todos os oceanos.

Sua alimentação depende quase que por completo das plantas e dos animais que nos rodeiam, desde os vegetais que nos proporcionam arroz e trigo, até os peixes e a carne de animais de grande porte, além dos hortifrutigranjeiros. Seu corpo contém por volta de cem bilhões de células e está conectado com tudo o que o rodeia no mundo exterior através de um maravilhoso e completo sistema imemorial. Compartilha seus átomos com todos os seres e elementos do mundo natural, é ancestral e inconcebivelmente jovem ao mesmo tempo. A biodiversidade é a vida; sua vida é a biodiversidade e a biodiversidade é você.

Você compartilha o planeta com treze milhões de espécies vivas distintas, entre elas, se incluem plantas, animais, bactérias, das quais somente 1,75 milhões possuem um nome e já estão classificadas; a maior parte, ainda desconhecida. Esta riqueza natural incrível é um tesouro de incalculável valor, que forma a base fundamental de sua qualidade de vida. Os sistemas e processos que esses milhões de organismos proporcionam de forma coletiva, produzem seu alimento, sua água e o ar que você respira: ¾ elementos fundamentais da vida.

Além disso, também proporcionam a madeira e os materiais vegetais para a construção de móveis, edifícios e combustíveis, os mecanismos que regulam o clima e controlam as inundações, a reciclagem de seu lixo, componentes radioativos e os produtos químicos com os quais se fabricam medicamentos. Entretanto, é muito fácil esquecer ou não perceber o óbvio, pois nossa relação na biodiversidade é tão perfeita e harmoniosa que tudo nos parece uma unidade única, e desta forma muitas vezes não atentamos para as partes dessa “unidade”.

A contribuição da biodiversidade em sua vida, além de ser prática, física, orgânica e utilitária, é também cultural. A biodiversidade do mundo natural tem sido uma fonte constante de inspiração ao longo da história da humanidade. Tem o seu nascedouro em tradições e na forma com que foram apropriados pelas sociedades, incorporando-se aos serviços básicos, sobre o qual foram sendo construídos o comércio e a economia. O desaparecimento de espécies únicas é uma perda incalculável e irreversível que nos deixa muito mais pobres. A perda de espécies icônicas e simbólicas no solo implica uma tragédia cultural, visto que prejudica nossa própria sobrevivência.

As atividades humanas dependem da bela e abundante diversidade do mundo natural. A derrubada e a queima das florestas, a eliminação dos manguezais, o cultivo intensivo e o stress produzido pela contaminação, a pesca predatória e os efeitos das mudanças climáticas estão destruindo a biodiversidade."

Fonte: Todas as consultas devem ser dirigidas a:
Secretaria da Convenção da Diversidade Biológica
Em atenção do Ano Internacional da Biodiversidade
Logo Review Board
413 Saint Jacques Street, suíte 800
Montreal, QC, Canadá
H2Y1N9
Fax +1 514 288 6588
Correio eletrônico: IYB2010@cbd.int

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Desmatamento e os Índios

Desmatamento e recursos exauridos
mudam hábitos e adoecem indígenas


Flavia Bernardes


O meio em que os indígenas do País vivem tem relação direta com a saúde desta população. A conclusão é do 1° Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas, feito pela Fundação Nacional da Saúde (Funasa), que apontou a existência de doenças que vão desde a desnutrição à obesidade em aldeias indígenas do País, ocasionando uma espécie de “transição epidemiológica”, diretamente ligada à degradação do meio em que vivem.

A incidência dos problemas nas mulheres indígenas, por exemplo, varia de acordo com a região: cerca de 47% das mulheres da região Norte (mais rural) tinham anemia e 22,4% das índias das regiões Sul e Sudeste (mais urbanizadas) sofriam com obesidade e 12% com pressão arterial.

Nas aldeias do Espírito Santo, o problema também ocorre e as índias reclamam das “doenças de branco”, que se tornam mais freqüentes a cada dia. Na região, as aldeias estão ilhadas entre eucaliptos, onde a terra é fraca devido ao intenso uso de agrotóxico e as famílias sobrevivem apenas com alimentos de subsistência. Além da obesidade, elas sofrem também de pressão arterial alta, problemas de nutrição como a anemia.

Segundo o estudo, estas comunidades sentem na saúde o impacto do desmatamento e da exploração de recursos naturais. Segundo a pesquisa – feita em 2008 e 2009 pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), com financiamento do Banco Mundial – mais de 19% das crianças indígenas do País foram hospitalizadas nos 12 meses antes do levantamento, principalmente por pneumonia e diarreia.

Além da destruição do seu habitat, os índios sofrem também com o avanço da urbanização, que leva não só à mudanças de hábitos alimentares, mas também a alterações da própria cultura.

Os dados do inquérito epidemiológico indígena subsidiarão a atuação da futura Secretaria de Atenção à Saúde Indígena, que será criada no Ministério da Saúde após aprovação da Medida Provisória 483.

A MP 483/10 altera a lei 10.683/03 e dispõe sobre a organização da Presidência da República e Ministérios. A medida autoriza a criação, no âmbito do Ministério da Saúde, de uma nova secretária, com 118 novos cargos para sua estruturação. A publicação dessa medida vai permitir a criação da Secretaria de Saúde Indígena, diretamente vinculada ao ministro de Estado da Saúde.

Indígenas no Espírito Santo

Os índios Tupinikim e Guarani vivem no norte do Espírito Santo, em uma área de cerca de 18 mil hectares homologados como terras tradicionalmente indígenas. Essas terras estiveram em poder da ex-Aracruz Celulose (Fibria), por trinta anos, e foi onde a empresa plantou o que, pelos índios, é conhecido como “deserto verde”.

Entre os desertos verdes, esses índios se mantiveram ilhados por anos, lutando por suas terras e também submetidos a diversas formas de desrespeito à legislação ambiental e aos direitos humanos.

A retomada de suas terras tem a ver com o resgate da tradição indígena da parte dos Tupinikim e também dos Guaranis, que apesar de resistirem e jamais abrirem mão de seus costumes, também sentiram a influência da urbanização que avançou sobre as comunidades indígenas.

Após a recuperação, pouco foi feito e as comunidades se veem abandonadas pelo poder público. A reclamação é sobre o aumento de violência, a chegada de forasteiros, a proximidade da população indígena com as drogas, que atualmente são oferecidas à beira da rodovia que corta a região, entre outros problemas.

Apesar de terem que negar sua condição indígena para evitar maus tratos no passado, os índios cobram dignidade e atenção.

Projetos para recuperação de terras e plantios de alimentos foram prometidos no ato da homologação de suas terras. Entretanto, afirmam os índios, a comunidade ainda enfrenta dificuldade.

Para os índios, a recuperação dos atuais 11 mil hectares - somados aos pouco mais de 7 mil hectares homologados no passado - não atinge toda a área que lhes pertencia, cerca de 40 mil hectares, mas lhes basta, no momento, para que possam reviver neles a vida vivida por seus antepassados dentro de aldeias.

fonte: http://www.seculodiario.com.br/exibir_not.asp?id=5727

Kuntanawa do Alto Rio Tejo

Kuntanawa

Kuntanawa do Alto Rio Tejo

Da Redação

Os Kuntanawa são um povo indígena com uma dura história de perseguição durante a instalação dos seringais no Acre, tendo grande parte da sua gente exterminada. Junto com essas pessoas foram também alguns segredos que se passava de pai para filho e demais tradições culturais.

Esse povo vive às margens do alto rio Tejo, no interior da Reserva Extrativista (Resex) do Alto Juruá, localizada no extremo oeste do estado do Acre, no município de Marechal Thaumaturgo. Estão progressivamente aglutinando-se em aldeias, sendo a principal delas conhecida como Sete Estrelas.

Com a sua cultura fragmentada, os Kuntanawa buscam agora resgatar tudo o que foi perdido. Não aceitam mais ser discriminados como os “caboclos dos Milton”, nome dado em referência ao seu patriarca (Milton Gomes da Conceição). Eles querem ser reconhecidos pela sua origem. Ser índio. Ter o direito a amar e a cuidar da natureza.

A grande luta desse povo ultimamente tem sido conseguir uma área indígena dentro da Reserva Extrativista do Alto Juruá. O cacique Kuntanawa, Seu Milton Gomes da Conceição, 73 anos, diz: “Estamos querendo ajudar o próprio IBAMA a tomar conta direitinho da Reserva”. Ele conta ainda o que já enfrentaram: “No começo o pessoal do IBAMA estava cismado com a nossa luta pelo reconhecimento de uma terra indígena dentro da Reserva”.

Kuntanawas de todas as gerações estão reunidos em defesa da criação de sua Terra Indígena. O ano de 2008 foi prova da sua ação, alguns deles participaram da Oficina de cartografia do PNCSA realizado em outubro, na aldeia Sete Estrelas, no Alto Rio Tejo, onde estudaram seu possível território. Eles clamam pelo direito a demarcação das terras, e o que mais querem é poder cuidar e proteger a floresta dos cariús (forma como eles se referem aos não-índios).

Este povo é o tema do 31º fascículo do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA). “Kuntanawa do Alto Rio Tejo” mostra de uma forma bem simples ao leitor a história e luta social desse povo. As páginas revelam a vontade deste povo de resgatar sua cultura, tradições e a retomada de rituais com a bebida ancestral ayahuasca, que eles consideram como “um grande professor”.

O fascículo será lançado esta terça-feira (4), às 19 horas no anfiteatro Garibaldi Brasil - UFAC. O evento contará com a participação de Haru Xiña (Liderança do povo Kuntanawa), Mariana Ciavatta Pantoja, da CFCH/UFAC, Terri Vale de Aquino do PNCS, Marcelo Piedrafita, do Museu Nacional/UFRJ, e Francisco Pianko, assessor especial de assuntos indígenas.

fonte: bibliotecadafloresta.ac.gov.br

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Dia do Índio - 19 de Abril

19 de Abril - DIA DO ÍNDIO

Comemoramos mais uma vez a vitória de reconhecimento da cultura indígena. Hoje, é o dia de vibrar a expressão de arte, natureza, vida e costumes. Um dia de celebração ao direito de reconhecimento de nação dentro da Nação. O Olhar verdadeiro da vida e da alegria de ter o direito de SER Índio...

E o Brasil? O Brasil não tem muito a comemorar. Em pleno Século XXI, Ano 2010, no auge da tecnologia de Comunicação, foi difícil para o Governo dar explicações reais dos impactos à população indígena. Ganhamos de presente a falta de consideração perante o direito Indigena no vergonhoso Projeto da Usina de Belo Monte.

Apesar de tudo, VIVA O ÍNDIO, que em 500 anos de história de lutas, massacres, perdas, ainda vive e demonstra que viver é amar o planeta e a natureza. Pode ter perdido tudo, mas não perdeu seu espírito. O Homem da Floresta.

VIVA O COLORIDO E OS PÁSSAROS, VIVA AS MATAS, VIVA OS ANIMAIS, VIVA OS RIOS, TERRAS E CACHOEIRAS, VIVA O HOMEM, VIVA O ÍNDIO.

Vitória Raposa Serra do Sol

FOLHA DE SÃO PAULO-SP
19/04/2010
Editoria: OPINIÃO
Assunto: INDÍGENA

MARINA SILVA

HOJE, EM Roraima, os netos de Makonaimî vivem um Dia do Índio especial. Uma grande festa comemora um ano da decisão histórica do Supremo Tribunal Federal, apoiando parecer brilhante do ministro Carlos Ayres Britto, que garantiu a conquista definitiva da terra indígena Raposa/ Serra do Sol.

A existência dessa terra indígena é um símbolo de vitória que se estende para além de seus limites e diz muito sobre a sociedade brasileira e a consolidação da democracia. Todos nós ganhamos com o reconhecimento dos direitos indígenas. Ficamos um país mais justo, mais tolerante e orgulhoso de sua diversidade, avesso à truculência e à violência contra os segmentos mais vulneráveis.

As autoridades que serão homenageadas hoje em Roraima, entre as quais o presidente Lula, tiveram importante papel de apoio, mas não são os protagonistas da vitória.

Estarei lá também e sinto que, dentro de nossas atribuições, ao lado de várias organizações de apoio à causa indígena, fomos auxiliares.

Os principais artífices foram os próprios índios, em décadas de luta para ver aplicada a justiça. A tenacidade com que buscaram alianças, a capacidade de convencimento da justeza de sua causa e confiança na lei e na ação do Estado foram qualidades desenvolvidas no sofrimento e na resistência.

Netos de Makonaimî é como se tratam os cerca de 20 mil índios de diversas etnias que vivem em 198 comunidades dentro de Raposa/ Serra do Sol. Embora memorável, esse foi só mais um passo na conciliação do país com os cidadãos indígenas. Há muito o que fazer, como demonstra a situação dos guarani-kaiowá, de Mato Grosso do Sul, cujo pedido de socorro transmiti em carta ao presidente Lula.

Vítimas de massacres sucessivos na história do Brasil, na Guerra das Missões, na Guerra do Paraguai, enfrentaram depois a ocupação desordenada das terras e o desmatamento. Em 70 anos foram consumidos 98% da mata original que garantia a sobrevivência física e cultural dos guarani-kaiowá.

Hoje, cercadas pela monocultura da soja, pasto ou cana-de-açúcar, suas poucas terras reconhecidas e regularizadas estão degradadas e têm extensão menor que um módulo rural para reforma agrária. E a maior parte está, de fato, ocupada por fazendas cujos ´´donos´´ recusam acatar demarcações oficiais.

Como se vê, ainda temos um longo caminho para fazer justiça aos índios brasileiros. Raposa/Serra do Sol trouxe novo paradigma. Neste Dia do Índio, o grande desejo é que a vitória sirva de exemplo. E que isso aconteça com muita urgência, pois, para muitas comunidades, como as do povo guarani-kaiowá, o tempo se esgotou e o Brasil não viu.

contatomarinasilva@uol.com.br

MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta coluna.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Belo Monte - Missão Xingu: Impactos socioambientais e violações de direitos humanos no licenciamento da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.


A discussão sobre Belo Monte

14/04/2010 11:32:50

Belo Monte. Um projeto que deve ser cancelado. Entrevista especial com Guilherme Zagallo, publicada originalmente no site da Envolverde

Na última terça, dia 06 de abril, foi divulgado o relatório Missão Xingu: Impactos socioambientais e violações de direitos humanos no licenciamento da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. A IHU On-Line entrevistou, por telefone, com um dos relatores do documento, o advogado Guilherme Zagallo, que falou sobre as violações deste projeto aos direitos humanos e os seus impactos para a população e o ambiente local. “O município deve dobrar de tamanho. Hoje são 100 mil habitantes, e está prevista a migração de mais 96 mil pessoas. Essas pessoas que migrarão, em torno de 17 mil no pico da obra, trabalharão na construção. Só que essas pessoas não têm a qualificação necessária para a operação. A operação da usina vai movimentar apenas 700 pessoas. Passada a obra, ficará um caos social no município”, explica Zagallo.

Guilherme Zagallo é vice-presidente da seccional maranhense da Ordem dos Advogados do Brasil. É também relator nacional de direitos humanos da Rede de Direitos Humanos Plataforma Dhesca Brasil [1].

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O relatório recomenda, entre outras coisas, a suspensão imediata do leilão da usina...

Guilherme Zagallo – Foi solicitada, também, a anulação da licença prévia. Coincidentemente, o Ministério Público do Pará liberou um release, dizendo que está entrando com uma ação na justiça pedindo a mesma coisa, que a justiça determine a suspensão do leilão e a anulação da licença. E mais, que o Ibama se abstenha de conceder outra licença, sem que estejam sanadas as irregularidades apontadas.

IHU On-Line – E como o senhor vê a desistência da empreiteira Camargo Corrêa do leilão da obra?

Guilherme Zagallo – A avaliação que temos é que um dos consórcios envolvidos duvida da viabilidade econômica do projeto. Isso porque eles têm uma avaliação interna de que os custos envolvidos, os custos ambientais e sociais, são muito maiores do que aqueles reconhecidos pelo governo. Então, apesar de todas as vantagens que o governo disponibiliza, como financiamentos públicos a juros baratos e, inclusive, com subsídios, ainda assim o empreendimento teria um risco financeiro muito grande.

IHU On-Line – Em relação aos direitos humanos, quais são as principais violações que estão sendo cometidas na obra de Belo Monte?

Guilherme Zagallo – A principal de todas elas é a ausência de oitivas nas comunidades indígenas, um direito garantido pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, e que foi ignorada pelo governo brasileiro. A Funai esteve fazendo algumas reuniões preliminares, quando o Enterprise Risk Management (ERM), ou Iniciativa de Gestão de Riscos, não estava sequer depositado. Ou seja, o projeto não estava finalizado, ainda estava em modificação, e dizia para as comunidades indígenas que não eram as oitivas indígenas da comissão 169. Porém, no processo do licenciamento ambiental, a Funai atesta que as oitivas teriam sido realizadas, juntando o ato das reuniões preliminares. As comunidades indígenas, no entanto, estão revoltadas com o tratamento que a Funai deu a esse caso.

A Funai tentou lavar as mãos dizendo que esta autorização estaria condicionada a segurança de que os povos indígenas não sofreriam impactos, mas o Estudo de Impacto Ambiental (EARIMA) reconhece que os povos indígenas vão sofrer impacto. Esta barragem será construída em um trecho que hoje é seco. Eles irão desviar a maior parte da água de um trecho de 100 km do Rio Xingu, na região de Altamira, e, nesta região de seca, existem duas terras indígenas. São terras indígenas que serão afetadas não pelo alagamento, mas pela seca permanente, que vai reduzir a quantidade de pescado e a biodiversidade de um modo geral. Há sim impacto nestas terras, e isso não foi reconhecido no processo.

Além disso, o governo subdimensionou no EARIMA, pela Eletronorte, a população atingida. Não foram consideradas as populações que vivem às margens desses 100 quilômetros, sejam as populações indígenas ou as ribeirinhas. A Eletronorte também não fez um estudo sobre índices isolados, e não existem indicações sobre isso. O hidrograma ecológico apresentado por eles, da vazão mínima neste rio que será desviado, não atende às necessidades dos ecossistemas da região, e sim as necessidades de geração de energia. Com certeza, irá haver uma extinção de espécies nesta região, que é muito rica em biodiversidade, e algumas espécies de peixes são endêmicas, só existem lá. Não foram analisados os impactos ajuzantes da usina. Logo depois da casa de força, há um dos principais pontos de produção de tartarugas da Amazônia, cujo impacto sequer foi analisado. Também não foi analisada a questão da migração sobre o desmatamento da região. Por todos esses motivos, concluímos, em nosso relatório, que esse empreendimento é inviável, do ponto de vista socioambiental, e pela saída de um dos consórcios. Provavelmente, até do ponto de vista econômico, esse empreendimento é inviável.

IHU On-Line – Como foi a reunião com a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados onde o relatório foi divulgado?

Guilherme Zagallo – Sentimos uma receptividade muito grande na Câmara dos Deputados da comissão. Inclusive, um fato interessante é que havia dois senadores presentes, um do Pará, José Nery, e um do Tocantins, Osmar Pitangueira. Isso não é muito comum nas sessões da comissão na Câmara. Porém, mais uma vez percebemos uma omissão do estado brasileiro. Nenhuma das autoridades convidadas do Ministério de Minas e Energia e do Meio Ambiente compareceu. Isto já havia acontecido na audiência pública convocada pelo Ministério Público Federal, em 1º de dezembro do ano passado. Ou seja, o estado brasileiro ignora e desrespeita o executivo e não quer debater com a sociedade, não quer expor seus argumentos de defesa dos projetos. Provavelmente porque sabe que é muito frágil a defesa desse empreendimento.

IHU On-Line – E como foi a reunião com Dom Erwin nesta quinta-feira, dia 08 de abril, pela manhã?

Guilherme Zagallo – A CNBB também tem posição contrária, e a conferência, inclusive, publicou uma nota pública contra este empreendimento. Dom Erwin recebeu uma cópia do relatório e está viajando para Roma, para uma audiência com o Papa. Segundo palavras do próprio D. Erwin, ele irá mencionar esse assunto com o Papa Bento XVI. Este é considerado, por ele um dos principais temas da audiência. A expectativa é que demos ao máximo a repercussão. A reunião está marcada para o dia 20, e esperamos que o poder judiciário, recebendo a ação que o Ministério Público do Pará está entrando na justiça, reconheça todas essas ilegalidades e essas violações aos tratados internacionais e à constituição, suspenda esse leilão e anule a licença prévia. Essas são recomendações que constaram também em nosso relatório.

IHU On-Line – Por que o senhor chama Belo Monte de “Usina Vagalume”?

Guilherme Zagallo – É porque o governo a divulga como uma usina de geração de 11.181 megawatts. Esta é a capacidade máxima de geração. Só que essa é a capacidade máxima quando se tem água para isso. O Rio Xingu tem uma variação muito forte entre as estações. A média, no período de seca, é de 1.065m³ de vazão por segundo. Na cheia, a média chega a 19.000 ou 20.000m³ de vazão. Esta usina só poderá gerar 11mil megawatts em três meses e meio por ano, mais ou menos. Na maior parte do tempo, ela gera valores inferiores a isso. Na média do ano, vai gerar em torno de 4400 megawatts, sendo que, nos meses de seca, que são dois pelo menos, ela gera menos de mil megawatts.

Há declarações do presidente da Petrobras dizendo que a usina pode ser sazonal, e, neste período de pouca água no rio, pode ser uma usina que funcione somente no período da noite, quando aumenta o consumo na região sudeste. Isto não está previsto no EARIMA, que não considerou essa possibilidade no estudo de impacto ambiental. Não está demonstrada, também, essa complementaridade que eles alegam nas suas falas, de que, quando Belo Monte tiver pouca energia, os sistemas sul e sudeste terão um volume maior de energia. Isso não está demonstrado e deveria ter sido analisado no estudo. Por esse motivo, chamamos de Usina Vagalume.

Neste ciclo de vida da usina, a cada cinco ou seis anos, haverá meses em que o volume de água no rio será inferior ao volume mínimo de água que teria que ser liberado para o trecho da vazão ecológica. Resultado: a cada quatro ou cinco anos, a Usina não gerará energia, porque não terá água suficiente para movimentar suas turbinas. A Usina de Belo Monte não gerará um volume firme de energia, nos quantitativos que o governo anuncia.

IHU On-Line – Em novembro, vocês realizaram uma missão especial na Volta Grande do Xingu para verificar os impactos que já estão sendo causados pelo projeto da usina de Belo Monte. O que vocês viram?

Guilherme Zagallo – O que vimos é uma apreensão por parte da população de Altamira. Dezenas de ruas, em Altamira, serão submersas em função da elevação da cota do rio na cidade. Ainda não está claro para a população quais serão essas ruas, já que o governo não fez uma divulgação disso. As pessoas não sabem quem irá perder suas casas. Nas comunidades ribeirinhas, ao longo do rio, há uma apreensão maior ainda. Porque esse rio, com essa variação tão grande entre verão e inverno, entre seca e chuva, vai passar a ter um verão permanente. As comunidades temem ficar isoladas. O principal meio de comunicação na região é o Rio Xingu, um rio com muitas cachoeiras, corredeiras, muitos pedrais e, com pouca água, irá dificultar muito o transporte da população. A pesca, uma importante fonte de subsistência dessas populações ribeirinhas, também será afetada. Por tudo isso, há uma apreensão muito grande por parte da população em relação à implantação desse empreendimento. Basicamente, o segmento que está apoiando a implantação da hidrelétrica na cidade de Altamira é o empresarial.

IHU On-Line – Quais os principais problemas no Estudo de Impacto Ambiental apresentado pela Eletronorte?

Guilherme Zagallo – O estudo é insuficiente em muitos aspectos. Muitas vezes ele não consegue atestar a viabilidade ambiental do empreendimento. A própria licença prévia, concedida pelo Ibama, tem quarenta condicionantes. Ou seja, se um empreendimento tem quarenta condicionantes, e, em tese, um empreendimento só pode ser implantado se adequado a essas determinações, é porque ele não é viável do ponto de vista ambiental. Dois dias antes da concessão da licença, os técnicos do próprio Ibama, em parecer público, sustentavam que não havia elementos suficientes para a atestação da viabilidade ambiental do empreendimento. Talvez, por esse motivo, essa licença gerou a demissão de um dos diretores do Ibama na época e de coordenadores da área de hidrelétricas. Foi uma licença concedida e arrancada com uma política muito forte, e não com obediência dos processos.

IHU On-Line – O impacto da migração de trabalhadores para a região não foi considerado pelo governo na concepção do projeto. Se a usina sair, como seria esse impacto?

Guilherme Zagallo – Eles reconhecem a migração, mas não dão nenhum tratamento a isso. O município deve dobrar de tamanho. Hoje são 100 mil habitantes, e está prevista a migração de mais 96 mil pessoas. Essas pessoas que migrarão, em torno de 17 mil no pico da obra, trabalharão na construção. Só que essas pessoas não têm a qualificação necessária para a operação. A operação da usina vai movimentar apenas 700 pessoas. Passada a obra, ficará um caos social no município. Como se trata de exportação de energia, e não há atração de empreendimentos para gerar empregos no município, restará um problema social terrível na região e, com certeza, resultará no aumento do desmatamento, da ocupação irregular de terras indígenas etc. Essa região já tem muitos problemas socioambientais, e a tendência é que esses problemas sejam enormemente agravados com a construção da usina.

O impacto de migração já está acontecendo. Na semana passada, o jornal O Globo fez uma série de reportagens, indicando que isso já ocorre, e que algumas pessoas já estão se dirigindo a Altamira na expectativa de disputar os empregos que serão gerados com a construção de Belo Monte. Esse é um dos maiores problemas dos grandes projetos. O simples anúncio do empreendimento já causa a migração, e o poder público quase nunca consegue controlar esse processo.

IHU On-Line – Como o senhor vê a campanha mundial contra Belo Monte, lançada pelo diretor de cinema James Cameron?

Guilherme Zagallo – Na década de 1980, houve uma primeira tentativa do governo de construir Belo Monte. Na época, houve uma personalidade do mundo artístico mundial, o cantor Sting, que deu declarações contra, juntamente com o líder indígena, Raoni. Isso teve uma importância muito grande. A imagem do Brasil certamente vai ser muito afetada com a construção desse empreendimento, seja pelo aumento do desmatamento ou pelo impacto das populações indígenas.

O diretor James Cameron, sendo um cineasta que já arrecadou uma das maiores bilheterias do mundo, e que, recentemente, dirigiu Avatar, que tem uma temática ecológica, é uma voz que será ouvida. Já tivemos, em 2009, novas declarações do cantor Sting, retomando sua luta e participação. Certamente a construção desse empreendimento contribuirá para o aumento da imagem negativa do país na área ambiental.

IHU On-Line – O que está em jogo, uma vez que os alertas e as manifestações surgem de diferentes partes, em relação à ideia do governo de continuar com o processo de licenciamento?

Guilherme Zagallo – O governo quer produzir energia para empresas eletrointensivas. A própria Alcoa [uma das líderes mundiais na produção de alumínio], que tem uma mina de bauxita no município de Juruti, já sinalizou sua intenção de construir uma fábrica de alumínio. 70% do custo de produção do alumínio é energia elétrica. O que o governo está sinalizando é que a finalidade da construção de Belo Monte não é para atender necessidades de um empreendimento que gera emprego, mas para viabilizar empreendimentos eletrointensivos na região.

IHU On-Line – Então, o modelo do projeto explica a opção do governo...

Guilherme Zagallo – Sim, a opção do governo é que o Brasil seja um fornecedor de produtos semiacabados. Vivo na cidade de São Luís, onde há 25 anos se mantém uma fábrica que exporta lingotes de alumínio de 45 quilos, sem nenhuma verticalização ou integração. Isso vai para a Europa, Estados Unidos e para a Ásia para transformação em produtos com maior valor agregado. Aqui ficamos somente com o problema ambiental dos poluentes que são emitidos e do consumo excessivo de energia, que faz falta à nossa população.

IHU On-Line – Que alternativa deve ser apresentada em relação ao projeto de Belo Monte?

Guilherme Zagallo – Belo Monte, na nossa avaliação, é um projeto que deve ser cancelado. O Rio Xingu tem peculiaridades muito específicas, que dificultam ou praticamente impedem que esse processo seja corrigido. Acho que um estudo de impacto ambiental mais detalhado vai concluir, com mais rigor científico e técnico, que é inviável a implantação do empreendimento naquela região. Por isso, essa pressa toda na concessão da licença e na pressão sobre o Ibama. Esse processo que, no nosso ponto de vista, não é possível ser consertado.

IHU On-Line – A partir da divulgação do documento, nesta última quarta-feira, quais são os próximos passos a serem tomados?

Guilherme Zagallo – Feito esse lançamento na Câmara, enviaremos cópias do relatório ao Ministério Público Federal, ao governo brasileiro, ao Ministério do Meio Ambiente, de Minas e Energia, Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a todas as agências envolvidas, Ibama e Aneel. Também para as agências internacionais, à própria Organização Internacional do Trabalho, já que conta com uma possível violação a uma de suas convenções, às relatorias internacionais da ONU, relacionadas à questão indígena. O relatório será enviado a uma série de autoridades, nacionais e internacionais, solicitando a adoção de providências.

Notas:
[1] A Plataforma DhESCA Brasil surgiu como um capítulo da Plataforma Interamericana de Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvimento (PIDHDD), a qual se articula, desde os anos 1990, para promover a troca de experiências e a soma de esforços na luta pela implementação dos direitos humanos, integrando organizações da sociedade civil de diversos países, em especial do Peru, Equador, Argentina, Chile, Bolívia, Colômbia, Paraguai e Venezuela.

Link Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=6&i=6451

Link Envolverde: http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=72741&edt=1

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Manchineri e Xamanismo

O Povo Manchineri sempre teve suas tradições baseadas na estrutura do Xamanismo, tendo a figura central o Pajé (Kahontshi), lider espiritual que alcançava os conhecimentos do mundo invisível.

Na Foto ao lado, Harita Manchineri, um pajé tradicional que mora na Aldeia Extrema - Terra Indígena Mamoadate - Assis Brasil - AC.

Harita (José Sebastião), é o curandeiro da comunidade, entre suas ferramentas de cura e de conhecimento está a Ayahuasca (cipó), que possibilita através das visões identificar as doenças nos pacientes.

"Tinha o Kahontshi. Ele ia sozinho na mata tomar cipó. Ia só e com quem ele ia curar, na mata pura. Atava uma rede nas árvores e tomava. No dia seguinte o sujeito estava bom. E num ia mulher de jeito nenhum. Ele era o mesmo que o Tuxau [o chefe político], ele era mais que o Tuxau. Ele conhecia outras coisas diferentes do Tuxau. Ele colocava a rede, começava a cantar, e quando chegava a hora ele dizia ‘chega aqui’. Aí chegava o que estava doente, o que ele podia tirar pegando assim ele tirava, o que num podia ele chupava. No outro dia estava bonzinho. Ele mostrava o que ele puxava. Kahontshi matava. Quando tinha uma morte vingava mesmo. Eles brigavam entre eles, porque um queria ter mais poder que o outro. Ele fazia assim antigamente. Meu pai contava assim. Diz que ia caçar, um tio, um sobrinho, ele mandava onça acompanhar. Aí se perdia, a onça aparecia e dizia ‘não, o caminho é bem aí!’ a onça contava. Trabalhava pelo Kahontshi. Meu pai cantava, cantava sozinho assim” (Charuto, filho de um famoso pajé manchineri, Ananias Batista)." (pib.socioambiental.org/pt/povo/manchineri/721)

quinta-feira, 25 de março de 2010

Ayahuasca e Xamanismo - Cultura Imaterial

Estima-se que o uso ritualístico da Ayahuasca remote a pré-história, apesar das evidências arqueológicas encontradas, como: potes, vasos, cuias e desenhos que comprovam o uso de plantas de poder, datarem de 2000 A.C. No Xamanismo da região Amazônica é muito comum encontrar este chá ou vinho dentro da ritualística de várias etnias. A Ayahuasca é obtida da decocção de um cipó e de uma folha, ambos endêmicos da região. O cipó, conhecido científicamente como Banisteriopsis caapi, popularmente como Jagube, Cipó, Mariri, Yagé, etc. E um arbusto da família Rubiaceae, Psychotria viridis, conhecido como Chacrona, Rainha, Folha, Tempero, etc. A ação da bebida sagrada se dá através de um componente Inibidor de MAO (Monoaminooxidase) e um triptamínico a N,N-dimetiltriptamina (DMT).

Esta bebida é tida como sagrada pelo apendizado e expansão da consciência que ela propicia a quem a ingere com um atributo indíspensável: o respeito; e atentando as regulações das quais são ensinadas ao longo de todos esses anos, por exemplo: dietas praticadas por pajés e curandeiros. Estes homens de conhecimento, a quem é designado a liderança e conduta espiritual-social de sua comunidade são exemplos de aprendizes de plantas, ambiente e imaterialidade. A ayahuasca é utilizada como uma espécie de planta, poção ou poder mágico da floresta que propicia a desconexão da alma de seu enredamento corpóreo, podendo assim, atingir outros níveis de frequências universais que estão fora do alcance da consciência comum. Podemos explicar melhor no mesmo sentido de como uma antena capta um sinal. Existem várias frequências sendo emitidas a todo momento, o que realmente muda é a sintonia deste aparelho. Assim, podemos perceber que a Ayahuasca é um mecanismo facilitador de sintonização de diferentes frequências que não são percebidas ou captadas pela consciência comum. Os curandeiros amazônicos entram nestas frequências para poder experimentar sensaçãoes, visões-formas, cores e vibrações, onde este novo conjunto de fatores carregam sua memória e consciência para novos horizontes e encontros com o Sagrado. O chá amazônico reativa a percepção de unidade onde a sinestesia faz com que a experiência adquirida nesses planos seja verdadeiramente sentida no interior do individuo, transfomando assim, conhecimento em sabedoria. Dentro dos propósitos das viagens desses xamãs está a cura, tanto física, quanto psiquica e espiritual. O xamã entra nessas visões e experimenta a sensação de poder ver ou sentir a doença. Por exemplo, uma doença psiquica pode formar um conglomerado energético diferente ao redor do campo energético-magnético do indivíduo, ou seja, as vibrações emitidas por aquele indivíduo são sentidas em frequências diferentes das consideradas normais. O xamã vê essas diferenças energéticas quando está sob o efeito da bebida, e com sons, vibrações e cantos, Icarando (Entoando), ele incide sobre o lugar doente fazendo com que aquele campo possa expelir ou vibrar na frequência ideal para a cura daquela pessoa. Normalmente existem instrumentos utilizados nessa aliança Xamã - Som - Vibração, como: o maracá (chocalho), tambor, cantos, imitações e assovios. Dentre estes sons o curandeiro escolhe aquele que irá cantar. Este canto, mais conhecido como "Icaro" é um instrumento de poder da sabedoria ancestral, geralmente composto por um conjunto de sílabas e fonemas de alta frequência (agudos) e baixa frequência (graves). Essa variância faz com que ocorra um ajuste do setor "sujo" (pelo mesmo princípio físico de construção e destruição de ondas) daquele campo doente. As vezes estes sons não tem significado linguístico ou aparece em idiomas desconhecidos, mas tem a mesma funcão de um "Mantra", onde o objetivo é expandir o campo vibracional, sensorial e existêncial, atraindo ou repelindo o que está disposto no Universo, tanto mental, quanto espacial e existencial. Dentre os outros objetivos ritualísticos temos o religioso, onde os pajés encontram a Unidade com o Grande Espírito, A Rainha da Floresta, Deus ou qualquer outro que signifique a Magnitute, Unidade, Universo e Amor. Esses homens entram na maior de todas as guerras, a do autoconhecimento e da autoexploração.

Pajés, curandeiros, xamãs ou homens de conhecimento e sabedoria foram e ainda são essenciais para a manutenção e sobrevivência desses povos, onde toda a imaterialidade conhecida é refletida na materialidade do cotidiano. E a Ayahuasca sempre proporcionou este encontro homem-natureza-mistério. E a verdade é entrar nessa imensidão do desconhecido, aprender, sentir, viver e perceber que a cooperação, união e o amor é o ciclo motor de tudo.

quarta-feira, 17 de março de 2010

O Roçado

Os índios sempre foram ótimos agricultores. Em suas plantações, mais conhecidas como "roçado", costumam cultivar diversos tipos de plantas, necessárias à sua subsitência. Dessa forma diminuem a distância e a busca por plantas floresta adentro.

Na hora de fazer o roçado escolhem a terra segundo a qualidade do solo. Não se planta onde o solo é duro e a terra não é boa. Nesse tipo de solo se planta cana e banana, por exemplo. O local também precisa ser bom para a derrubada e queimada.

Depois da escolha do local vem a marcação e o tamanho do roçado. Para marcar costumam fazer uma trilha grande com 2 ou 3 metros de largura aproximadamente. Dura em média 2 dias e vai dando forma ao roçado. Depois é aberta a trilha do meio, onde as pessoas andam pra frente e pra trás, pra receber comida, água e caiçuma.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O Simbolismo do Corpo na Cultura Indígena

A escolha do corpo e das representações a ele associadas não é aleatória. O corpo é mais que um instrumento de produção da vida diária indígena, é material simbólico pelo qual se produzem idéias, valores éticos e estéticos.

O corpo é produzido, fabricado, constituído pela sociedade. É cortado, adornado, nomeado, perfurado, pintado, tornando-se mais do que corpo. Ganha, assim, uma imaterialidade, traduzida naquilo que se liga a ele, nas suas produções no mundo, naquilo que o anima, a alma.

O corpo nasce, o corpo vive e o corpo morre... e nasce...

Este é o caminho que o olhar sobre o corpo conduz: do nascimento à morte, da vida material à vida imaterial. O parto, a infância com suas brincadeiras e a nomeação constituem fases importantes na modelação corporal. A adolescência e os rituais de preparação do corpo para a sociedade definem mais uma etapa em sua produção. O corpo maduro é retratado pelo casamento, pintura corporal para fins rituais, uso de adornos plumários, máscaras, armas de caça e guerra. O corpo é matéria-prima, suporte das pinturas, das máscaras e dos adornos, podendo ele próprio ser transformado em troféu de guerra: cabeça reduzida, ícone da modelação corporal e transformação cultural que sofre o corpo.

Se a doença e a morte encerram o ciclo vital da corporalidade, apontam, também, para direções que transcendem a materialidade corporal. As viagens do xamã para curar o corpo doente descortinam outros mundos, outros céus: dos espíritos, do depois da morte. Morrer é se transformar em onça imortal, é não morrer, é reviver através de outra forma de materialidade corporal.

Texto: Marco Antônio Gonçalves
Fonte: folder da exposição Corpo e Alma Indígena

Museu Do Índio

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Povos Do Acre - Índios do Brasil

Fonte: Biblioteca da Floresta
Acredita-se que provavelmente o território do Acre já era povoado há cerca de 20.000 e 12.000 anos atrás. Provavelmente foram os primeiros grupos humanos provenientes da Ásia, em sua longa jornada de migração até a América do Sul, onde perseguiam grandes manadas de animais gregários que durante a idade do gelo se espalharam pelas grande savanas do mundo. A Amazônia era uma dessas grandes porções de savanas, com apenas algumas manchas de florestas espalhadas ao longo dos rios que cortavam as terras baixas.

Era o tempo dos grandes animais, por exemplo, o mastodonte, a preguiça gigante, o toxodonte e diversos outros exemplares de megafauna que serviam de base alimentar desses grupos nômades de caçadores. Esses animais se extinguiram na útlima idade do gelo, e muitos de seus fósseis são ainda hoje encontrados nos barrancos dos rios do Acre. Apesar de nenhum vestígio humano, desse mesmo peíodo, ainda não ter sido encontrado, imagina-se que o homem já estive junto com os animais que caçava.

Com o aumento da temperatura e umidade, há cerca de 12.000 anos atrás, as grande florestas começaram a surgir, que proporcionou tanto o desaparecimento da megafauna em virtude da diminuição das regiões de pastagens dando lugar as florestas, quanto o aparecimento de fauna terrestre de menor porte e fauna aquática ao longo dos caudalosos rios que se formavam.

Todo esse novo conjunto de fatores deu início a formação e instalação de grupos pré-históricos da América, e por volta de cinco mil anos atrás começou o que os pesquisadores chamam de Cultura de Floresta Tropical, caracterizada por grupos que praticavam uma agricultura insipiente, complementada pela caça, pesca, e coleta de frutos e sementes da floresta. A partir dessa nova organização social, os grupos pré-históricos amazônicos passsaram também a fabricar cerâmica e a ocupar certos lugares por períodos mais prolongados. Com isso deixaram grandes sitios arqueológicos que testemunham seu florescimento por toda a Amazônia.

Porém, existem ainda grandes círculos de terra que são denominados "Geoglifos", formas geométricas - círculos, quadrados, hexágonos e diversas outras composições - que variam entre 150 e 350 metros de diâmetro. Aparecem principalmente em duas áreas: no divisor de águas entre os rios Acre e Xipamanu e no divisor de águas entre os rios Acre e Iquiri. Essa localização revela que os povos que construíram essas misteriosas figuras com terra local, tinham preferência pela ocupação da terra firme em vez de habitarem ao longo das margens dos principais rios da região.
Uma coisa já é certa, já que a maioria desses sítios apresentam cerâmica arqueológica, o que indica que foram construídos, utilizados e talvez habitados por grupos indígenas pré-históricos.

Estes Geoglifos reforçam os indícios de que existiram contatos prolongados entre as Civilizações Andinas e os povos da Amazônia Ocidental desde muito do que se imagina. Mas só a realização de novas pesquisas arqueológicas será capaz de respoder as questões sobre nosso mais distante passado.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Preservação da Fronteira: Brasil-Perú-Bolívia

Os Povos indígenas do Acre/Brasil, que fazem fronteira com Perú e Bolívia sofrem com a intensa atividade ilegal nas regiões de divisa. Muitas dessas atividade trazem grande impacto para as comunidades indígenas e extrativistas da região.

Lideranças das Terras Indígenas Terras Indígenas Mamoadate, Kaxinawá-Ashaninka do Rio Breu, Kaxinawá do Rio Jordão e Kaxinawá do Seringal Independência, Cabeceira do Rio Acre, Kaxinawá do Rio Humaitá e Kaxinawá do Igarapé do Caucho localizadas na fronteira do Acre com o Perú relatam vários problemas enfrentados e preocupam-se com a o rumo da Dinâmica Trasnfonteiriça.

Muitos desses problemas, como a aproximação de índios isolados nas TIs, relata Francisco Ninawá Huni Kui, morador da TI Kaxinawá do Rio Humaitá, acontece devido a presença de madeireiros ilegais vindos do Perú. Medidas como a Frente de Proteção Etnoambiental Rio Envira, da Coordenação Geral de Índios Isolados, da FUNAI, pretende continuar realizando as atividades de proteção dos isolados e de seus territórios, trabalhando junto com os povos que hoje compartilham as terras com os isolados, evitando novos conflitos.

Outro probelma, relatou Jaime Lhulhu Manchineri, tem sido o tráfico de drogas, da TI Mamoadate, localizada na fronteira do Município de Assis Brasil com o Perú, já que foi preso pelos Manchineri um grupo de peruanos transportando pasta de cocaína. “Na nossa terra há muitas ameaças de narcotráfi co. Por três vezes os peruanos chegaram lá pelo rio Iaco e foram entregues por nós à Polícia Federal, sem contar que madeireiros de Inãpari (cidade do Peru que faz fronteira com Assis Brasil) já entraram no Mamoadate”, conta Jaime.

Dentre os outros problemas, podemos destacar a pesca ilegal dentro das TIs e a extração ilegal de madeiras.

As novas políticas de integração devem avaliar adequadamente os impactos, sociais e ambientais, e consultar as comunidades que serão afetadas.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Os Índios e a Natureza

No Brasil, existem diversos tipos de ecossistemas, os quais fizeram com que todos os povos nativos se adaptassem à região e o meio em que viviam. A relação direta com a "natureza" local criava certos moldes de sobrevivência e interação.

Essa relação gerou processos culturais diferentes e característicos a cada comunidade indígena, de acordo com os aspectos e estratégias de adaptação a cada um desses ecossistemas, pois são contempladas cerca de 560 terras indígenas no território brasileiro.

Dentre os ecossistemas de nosso território podemos citar: A Região Amazônica, com as florestas de castanheiras, das matas de cipó, das várzeas, das matas de igapós, das savanas de terra firme, dos rios de água preta, das florestas de terra firme, etc. (Museu do índio)

A permanência e instalação das sociedades indígenas se dava de acordo com a quantidade, qualidade e distribuição dos recursos indispensáveis ao desenvolvimento de suas comunidades. Uma atividade que ainda é praticada, os roçados, consiste na produção de atividades agrícolas. Pequenas formações de roças e plantações são abertas na mata para que se possa plantar e cultivar diversas espécies de plantas, tornando possível a proximidade dos recursos necessários à sobrevivência.

O conhecimento, observação e preservação do local habitado faz com que cada vez mais os povos indígenas respeitem o desenvolvimento natural do ecossistema. Por exemplo, os índios que vivem nas bacias de água preta, por sua vez, sabem que as matas de igapó servem de refúgio para diversas espécies de peixes, que encontram alimento e condições adequadas para a desova. Assim, os índios evitam o plantio de seus roçados nas proximidades desses ecossistemas, evitando a destruição e não perturbando o desenvolvimento do ciclo vital dessas espécies, que de forma geral são fonte de proteína animal.

Os índios aprenderam a adaptar-se nos ecossistemas que vivem, aprendendo com o meio ambiente que o cerca, desenvolvendo tecnologias e sustentabilidade.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Se ainda há esperança, que seja verdadeira e séria.

Ministério Público tem elementos para questionar Belo Monte

Estadão - Tópico PLANETA

MP reagiu à ameaça da AGU de processar procuradores que questionem a licença ambiental da usina

Luana Lourenço - da Agência Brasil

BRASÍLIA - O Ministério Público Federal no Pará reagiu à ameaça da Advocacia-Geral da União (AGU) de processar procuradores da República que questionem a licença ambiental da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA). Em nota, o MPF disse que as críticas feitas pela AGU “parecem desprezar que o Estado democrático não constrói com base na coerção”.

O procurador da República no Pará Ubiratan Cazetta classificou como “lamentável” a pressão feita pela AGU e disse que o órgão federal desconsiderou o trabalho de avaliação do MPF sobre os processos que envolvem Belo Monte.

“Não fomos açodados nem agimos por interesse pessoal. Faz 13 anos que acompanhamos essa questão, que temos feito chamadas sobre pontos que entendemos como errados”, disse o procurador à Agência Brasil.

O MPF ainda aguarda o recebimento da licença ambiental, assinada na última segunda-feira (1º) pelo presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Roberto Messias. No entanto, segundo Cazetta, já é possível apontar falhas que poderão sustentar recursos contra a liberação do empreendimento.

O procurador cita, por exemplo, a falta de estudos técnicos dos impactos sobre as populações ribeirinhas, que deveriam constar nos Estudos de Impacto Ambiental, mas não foram solicitados pelo Ibama. “O que era para ser prévio foi colocado como condicionante. A licença [prévia] não poderia ter jogado essa obrigação para o futuro.”

Falhas na realização de audiências públicas também poderão justificar questionamentos e já são alvo de uma ação civil pública que tramita na Justiça Federal em Altamira (PA). Uma decisão liminar chegou a suspender o processo de licenciamento, mas foi derrubada em seguida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Ubiratan Cazetta argumenta que o debate sobre Belo Monte tem que ser “traduzido de forma verdadeira” para sociedade. “É um processo muito marcado por informações pela metade. O marketing oficial do governo não diz que a usina só produzirá 11 mil megawatts em uma pequena parte do ano e que a média será de 4 mil megawatts”, apontou.

O custo da obra, orçada inicialmente pelo governo em R$ 9,5 bilhões e agora anunciada por pelo menos R$ 20 bilhões, também deve ser melhor explicado, na avaliação do procurador.

Cazetta disse que os procuradores no Pará não se sentiram intimidados e que o MPF continuará exercendo a função de fiscal. “Fica a sensação de que poderíamos ter fortalecido as instituições sem precisar disso. Mas não queremos criar nada pessoal nem uma disputa entre instituições.”

Segundo ele, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, reafirmou o apoio institucional à defesa dos direitos dos cidadãos que se sentem ameaçados pelo empreendimento.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

De Belo não há nada!

Belo Monte: solução burra para a geração de energia no Brasil

02 de Fevereiro de 2010 - Site do Greenpeace

São Paulo e Manaus —

“Belo Monte é uma resposta medíocre para o desafio de gerar energia para o país”, diz Marcelo Furtado, diretor executivo do Greenpeace no Brasil.

Do ponto de vista ambiental, ela repete erros que o país cometeu no passado, alagando áreas de floresta relevantes para construir mega hidrelétricas. Itaipu afogou o Parque Nacional de Sete Quedas na década de 1970. Quarenta anos depois, Belo Monte vai provocar um desmatamento de 50 mil hectares em zona de mata, ainda razoavelmente conservada, em pleno coração da Amazônia.

O processo de liberação da obra mostra também como o licenciamento ambiental no Brasil andou para trás. Danem-se as necessidades técnicas e científicas do pessoal do Ibama que analisa os impactos de grandes obras no Brasil. Os recentes governos brasileiros fizeram muito para desacreditar o trabalho que envolve o licenciamento de grandes obras. Lula levou esse comportamento ao extremo e o transformou em refém dos seus desejos.

É Lula, e não a lei, quem agora define seus prazos. Qualquer resistência é recebida pelo presidente e seus ministros com uma ironia burra acerca da complexidade do trabalho dos técnicos. O argumento central é que a conservação da natureza atravanca o desenvolvimento. As 40 condicionantes impostas pelo Ibama para mitigar os efeitos ambientais da obra apenas aliviam os imensos impactos sociais e ambientais da obra. E seriam dispensáveis se o governo recobrasse os sentidos e percebesse que Belo Monte é uma obra desnecessária.

“Belo Monte também é símbolo de uma visão de desenvolvimento defasada”, prossegue Furtado. “Ela não agrega novas tecnologias, não embica o país para o futuro. É uma obra de cimento e aço, típica do século que passou. Além de antiga, Belo Monte vai operar com um alto nível de ineficiência.” Longe dos principais mercados consumidores do país, a energia gerada em Belo Monte terá de ser enviada às regiões Sul e Sudeste do Brasil, produzindo enormes perdas.

Um estudo do Greenpeace realizado em 2007 com a assistência do Grupo de Energia da Universidade Politécnica da USP (GEPEA - USP) mostra que é possível atender à demanda de energia do país até 2050 com investimentos em geração que passem ao largo de tecnologias de grande impacto ambiental, como grandes hidrelétricas, usinas nucleares e termelétricas movidas a carvão ou óleo diesel. A ausência desses dinossauros energéticos seria suprida com a utilização de fontes de geração de energia renováveis modernas como eólica, biomassa e solar.

O cenário desse estudo aponta para uma produção de energia em 2050 em que a geração hidrelétrica responderia por 38% das necessidades do país. O restante viria de biomassa em suas diferentes formas de cogeração (cascas e bagaço, óleos vegetais e biogás), com 26% da geração total. A energia eólica entraria com 20% da geração e os painéis fotovoltaicos contribuiriam com 4%.

A matriz seria complementada com 12% de geração termelétrica a gás natural – que apesar de mais poluente do que qualquer geração renovável, ainda representa uma redução de emissão em relação às termelétricas a carvão e óleo combustível, completamente eliminadas da matriz nesse estudo do Greenpeace, juntamente com os reatores nucleares.

Além de claros benefícios ambientais, o estudo conclui uma matriz com esse perfil, mais moderno e menos dependente de apenas um tipo de geração de energia, também traria benefícios econômicos para o país, uma vez que seu custo completo, de R$ 537 bilhões, é R$ 117 bilhões menor que os cálculos do custo da matriz de referência usada pelo governo em seu Plano Nacional de Energia (PNE) para 2030.

No lugar de uma Belo Monte na Amazônia, o Brasil deveria por exemplo investir na criação de uma Belo Monte de vento no Nordeste, que gerasse empregos mais condizentes com o século 21 e desenvolvimento industrial de baixo carbono e alta qualidade.

“A usina de Belo Monte é uma prova, sobretudo, de como o Brasil enxerga o futuro pelo espelho retrovisor”, diz Furtado. “Ao invés de pensar a Amazônia como uma região para a expansão de mega usinas hidrelétricas, o governo deveria planejar o seu desenvolvimento de olho na floresta como um ativo de interesse mundial, que tem influência fundamental para o futuro da regulação do clima no planeta e que presta óbvios serviços ambientais à agricultura nacional.”

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Índios não serão deslocados pela Belo Monte, diz Minc

A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que teve a licença prévia assinada nesta segunda-feira (1), não exigirá o deslocamento de índios que vivem na região do Rio Xingu, no Pará. “Não vai ter um índio deslocado. Eles serão impactados indiretamente, mas não terão que sair das terras indígenas”, disse hoje o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.

Entre as 40 condicionantes impostas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na licença prévia, nenhuma trata diretamente das populações indígenas. No entanto, de acordo com o diretor de licenciamento do instituto, Pedro Bignelli, as obrigações que o empreendedor terá que cumprir beneficiarão indiretamente os indígenas da região. “Várias da condicionantes atingem os índios, por melhorar a região como um todo”, afirmou.

A licença prevê a construção de casas, escolas e postos de saúde e investimentos em saneamento básico em municípios na área de influência da barragem. Também determina a elaboração e o acompanhamento de medidas que garantam a conservação da fauna e da flora da região e da navegabilidade do rio.

A diminuição da vazão do rio em um trecho que passa por uma terra indígena não vai prejudicar as populações locais, disse Bignelli. “O rio não vai secar”, completou. Segundo ele, o Xingu já tem uma vazão bastante variável, de 23 mil metros cúbicos por segundo na época da cheia a 270 metros cúbicos por segundo na seca, independentemente da construção da barragem.

Desde a década de 1970, quando começou a ser elaborado, o projeto de Belo Monte é alvo de críticas de comunidades tradicionais, lideranças indígenas e organizações ambientalistas. Um dos episódios mais conhecidos da polêmica aconteceu durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em 1989, em que uma indígena contrária à usina ameaçou um funcionário da Eletronorte com um facão.

Encontramos aqui a questão! Será que por melhorar a região como um todo, o projeto ainda assim garante com firmeza que os benefícios atingirão os índios?

Qual a real garantia da preservação da fauna e flora? Quanto tempo levará para o reequilíbrio?

O Art. 1º da Lei nº 6.001, de 19 de Dezembro de 1973, que dispõe sobre o estatuto do índio, diz: Esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional.

O presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), dom Erwin Kräutler, afirmou hoje (1º) que é imprevisível a reação dos povos indígenas e das populações ribeirinhas contrárias ao projeto da Hidrelétrica de Belo Monte, se a usina for realmente construída no Rio Xingu, no Pará. "Esse povo vai chorar, vai gritar, vai se levantar", disse o bispo, durante debate sobre a construção da usina.

Será que toda essa ganância financeira é necessária? Até quando a falta de respeito para com os indígenas permanecerá?

Explorar a Natureza e absorver seus recursos, esse discurso ilusório trará suas respostas tão brevemente que não será possível ter o controle.

Nossa Mãe Natureza, Nossa Mãe Terra, Nossa Casa, está pedindo respeito e proteção, chega de mudanças catastróficas, pois com catástrofes é que será a resposta.

Xamãs da Amazônia

Desde os tempos em que os índios ainda eram senhores desta terra, antes do Brasíl, os curandeiros, xamãs e pajés exerciam um papel fundamental na sobrevivência e equilíbrio de seu povo. Conciliando sabedoria e medicina tradicional cuidavam da saúde da comunidade.

Com a chegada dos Europeus, da Igreja Católica e dos missionários protestantes sofreram perseguições que os forçaram a buscar refúgio em outras regiões.

No tempo da Borracha controlaram grandes epidemias, trazidas pelos não-indios para dentro da floresta. Garantindo muitas vezes que seu povo pudesse continuar existindo. Muitos xamãs se recolheram em regiões distantes para continuarem suas práticas de xamanismo, caso contrário eram forçados a abandonar ou converter-se em outra conduta religiosa imposta pelas missões.

Os xamãs são vistos pelos seus grupos como os grandes equilibradores do mundo visível e do mundo invisível, ou seja, o mundo da matéria e o mundo dos espíritos. Sua cosmologia permite que o contato com todos os seres da natureza traga informações e harmonia para a comunidade.

Hoje, o projeto "Escola de Xamãs" do Alto Aiari promove a retomada da medicina tradicional, especiamente entre os mais jovens, mas não somente no sentido do conhecimento de plantas e ervas medicinais, e sim no que diz respeito ao conhecimento metafísico destes grandes homens de conhecimento intuitivo. O objetivo da escola é revitalizar e desenvolver este conhecimento milenar para que não se perca com os poucos xamãs que ainda guardam os mistérios e a sabedoria da floresta.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Na Trilha dos Isolados

Expedição depende da mata para sobreviver

Necessidade de caça é regrada pela necessidade dos índios membros da expedição de se alimentar

Roberto Almeida, enviado especial

JUTAÍ (AM) -

Sem a possibilidade de levar alimentação por longos períodos na mata, a expedição da Frente Etnoambiental Vale do Javari é obrigada a caçar para sobreviver. Nos moldes de subsistência a caça é permitida e alimenta os 11 membros da equipe nas caminhadas.

Os índios da expedição - são ao todo cinco, das etnias matis, kanamari e marubo - acreditam que o macaco-aranha e o macaco-barrigudo têm a melhor carne para comer. Dura e com sabor forte, no entanto, ela não é a preferida entre os não-índios.


Integrante da expedição prepara macaco caçado para subsistência do grupo. Foto: JF Diório/AE








Nas duas entradas na selva em busca de vestígios dos índios isolados, com o objetivo de protegê-los do avanço de madeireiros e garimpeiros, a Frente de Proteção alimentou-se basicamente de peixes, aves, arroz e farinha de mandioca.

Por vezes, a pesca não foi suficiente e mutuns, jacus e inambús, três espécies comuns no sudoeste do Amazonas, serviram como base para a sobrevivência. Só em ocasiões atípicas, em dia de caminhada forte e pouca vida na floresta, foram abatidos macacos, jabutis, pacas e uma anta.

A necessidade de caça é regrada, basicamente, pela necessidade dos índios membros da expedição de se alimentar. Eles não têm o hábito de comer rações, como as servidas pelo Exército, o que comprometeria a expedição.

Os índios trabalham como mateiros e têm um olhar apurado sobre a floresta. Foi um deles, Wilson Kanamari, que encontrou o primeiro vestígio dos isolados, que passaria despercebido para alguém até com boa experiência de mata.

O vestígio encontrado por Wilson era uma quebrada, ou pequena árvore dobrada com a mão por um índio de passagem nas cabeceiras do rio Boia, onde a selva ainda é densa e virgem.

Os índios servem também como intérpretes caso houvesse um encontro direto, não previsto, com os isolados. Matis, marubos e kanamaris falam as três principais línguas do Vale do Javari, o que facilitaria a comunicação e preveniria um possível ataque.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Índio Hoje

O ÍNDIO HOJE

Hoje, no Brasil, vivem cerca de 460 mil índios, distribuídos entre 225 sociedades indígenas, que perfazem cerca de 0,25% da população brasileira. Cabe esclarecer que este dado populacional considera tão-somente aqueles indígenas que vivem em aldeias, havendo estimativas de que, além destes, há entre 100 e 190 mil vivendo fora das terras indígenas, inclusive em áreas urbanas. Há também 63 referências de índios ainda não-contatados, além de existirem grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena junto ao órgão federal indigenista.

Acesse: www.funai.gov.br

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

FUNAI - FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO

A Fundação Nacional do Índio tem como obejtivo , exercer, em nome da União a proteção do Índio.
Dúvidas acesse:
www.funai.gov.br

Katukinas relatam presença de isolados no rio Biá

NA TRILHA DOS ISOLADOS

CARAUARI (AM) - Após colher relatos consistentes de índios katukinas da Terra Indígena Rio Biá, no sudoeste do Amazonas, a expedição da Frente Etnoambiental Vale do Javari, realizada pela Funai em parceria com o Centro de Trabalho Indigenista, decidiu realizar uma nova entrada na selva a partir desta terça-feira (19). Os katukinas afirmam que tiveram contato com um grupo isolado desconhecido, descreveram sua fisionomia e o local onde caçam.
www.estadao.com.br/noticias/nacional,katukinas-relatam-presenca-de-isolados-no-rio-bia,497651,0.htm

Educação e Ensino Superior - Inclusão, Oportunidade e Cultura

De 1997 a 2005, o número de estudantes indígenas cresceu 20 vezes. De 100 saltou para dois mil alunos, de acordo com a Coordenação Geral de Educação (CGE/Funai). Os números não são precisos, mas a dimensão aproximada já dá uma idéia. Essa inclusão acelerada esbarrou na falta de preparo das instituições responsáveis pela educação dos índios. Aproximadamente 60% desses alunos são levados a deixar de lado os estudos por falta de apoio. Normalmente, eles precisam de habitação, alimentação, transporte e ajuda para a aquisição de material escolar – necessidades mais freqüentes dos alunos que vivem em terras indígenas distantes dos centros urbanos. (FUNAI - Revista Brasil Indígena, 2006, ano III nº2, pg. 42)

Nesses "500 anos" de correrias, massacres, discriminação e lutas fizeram com que os indígenas buscassem os estudos ocidentais. Este tipo de conhecimento era necessário para a inclusão e para que suas vozes de revindicação fossem ouvidas.

Expressar era necessário. A marginalização da sociedade em relação aos povos destruiu grande parte da cultura. Os estudos eram a saída. A adaptação ao conhecimento do branco.

Os moldes tradicionais de ensino, porém, não são adequados para a educação escolar indígena. Uma vez que o trabalho indígena não rende capital, rende subsídio. Seu costume não é urbano , é do homem da floresta. Sua maneira de comunicar não é a mesma. É necessário uma adaptação educacional, onde o aprendizado seja voltado à sua cultura. O modelo que atualmente está sendo utilizado é o estudo diferenciado, onde se aprende com a natureza e preserva os conhecimentos culturais.

A formação de professores indígenas, que proporciona o ensino nas escolas de dentro das aldeias e que a interpretação também é indígena, se mostra com bons resultados. As pesquisas são feitas dentro da própria comunidade, resgatam histórias, lingua, costumes e tradição.

O ensino superior, de formação dos professores indígenas, está muito mais complicado. As instituições são distantes, as necessidades são diferentes, a adaptação é difícil. Porém o crescimento dos alunos é grande, a força de vontade de conhecer e instruir seu povo é maior. Na liderança do ranking está o curso de Licensiatura indígena, a formação dos educadores.

O povo Manchineri, de Assis Brasil - Acre, Terra Indígena Mamoadate - está dentro do programa de estudo diferenciado. Jaime
Lhulhu Sebastião Prishico Manchineri, professor indígena, formado pela Comissão Pró-Índio do Acre e pela UNEMAT - Universidade Estadual do Mato Grosso - Projeto 3º Grau indígena - Ciências da Matemática e da Natureza, diz: "Proporcionar o conhecimento indígena e o conhecimento ocidental nos trás melhorias. O conhecimento tradicional surge como fonte de aprendizado, todos da comunidade aprendem coisas do dia-a-dia na aldeia: medicina, caçar, pescar, nossas histórias e costumes. O conhecimento ocidental é sobre as tecnologias, o mundo do homem branco, que também é importante. Hoje convivemos com esses dois mundos, temos que aprender sobre eles."

O sistema diferenciado trouxe melhorias, explica Jaime. Porém, "
Precisamos focar os professores indígenas. É necessário a base da alfabetização, onde tudo começa. O estudo incial ainda está fraco, os professores indígenas ensinam os futuros professores indígenas, por isso precisam de mais qualificação."

Povos do Acre - Biblioteca da Floresta

A Biblioteca da Floresta Ministra Marina Silva disponibiliza, no Espaço Povos da Floresta, no segundo piso, exposição dedicada às nações indígenas acreanas.
O visitante tem contato com um conjunto de painéis, composto por texto e fotografias das desesseis etnias indígenas conhecidas no Acre: Ashaninka, Jaminawa Arara, Katukina, Poyanawa, Madija, Manchineri, Apolima Arara, Jaminawa, Kaxinawá, Nawa, Nukini, Yawanawá, Apolima, Kaxarari, Shanenawa e Arara. Os painéis traçam um resumo dos tempos da história indígena e descrevem, brevemente, aspectos relacionados à origem, grupo lingüístico, cultura material, produção e localização geográfica. Uma exposição de peças indígenas apresenta a indumentária, artesanato e utilitários representativos das etnias indígenas do Acre. A seleção e exposição das peças mostram a forma de produção material feita pelos índios acreanos demonstrando sua diversidade cultural, através de seus fazeres. É importante destacar que a Biblioteca dispõe de um acervo que trata do tema, composto por revistas e publicações diversas, além de vídeos e CDs musicais. Esse acervo, que está sendo iniciado, será ampliado para que os visitantes tenham a oportunidade de aprofundar os conhecimentos sobre as nações indígenas acreanas.

Importância e Valor do Índio - Preservar e Resgatar

Antes de tudo, eles são os verdadeiros brasileiros. Estavam aqui muito antes da chegada dos Europeus. Segundo registro da Funai – texto: “A Origem dos Povos Americanos”:
No Brasil, a presença humana está documentada no período situado entre 11 e 12 mil anos atrás. Mas novas evidências têm sido encontradas na Bahia e no Piauí que comprovariam ser mais antiga esta ocupação, com o que muitos arqueólogos não concordam. Assim, há uma tendência cada vez maior de os pesquisadores reverem essas datas, já que pesquisas recentes vêm indicando datações muito mais antigas. (FUNAI)

Desde a chegada dos estrangeiros as terras do continente Sul Americano, ou seja, os conquistadores, os nativos brasileiros vêm sofrendo massacres, escravidão, repressão e discriminação. Seus direitos pela terra que habitavam foi tomado a forças e armas. Invadiram sua casa, roubaram o que tinham, mataram. Esta casa que hoje se chama Brasil já era habitada e tinha donos. O medo e a falta de opção fizeram com que adentrassem cada vez mais o continente, dificultando as investidas dos europeus.

Mesmo com tantas adversidades os povos Ameríndios ainda tentam guardar seus conhecimentos, suas tradições, seus costumes, o verdadeiro espírito do homem nativo. No Brasil encontramos uma das maiores diversidades étnicas já encontradas, e aqui está um valor cultural que não pode morrer.

Após o contato com o homem branco, os indígenas sofreram certas modificações em sua estrutura tradicional, que dificultou o processo normal de manter a cultura. O desconhecimento acerca desses povos fortificou o sentimento de discriminação, ou seja, fez com que a atenção não fosse voltada para o que estava sendo perdido.

A socialização destes povos gerou a necessidade de integrá-los aos sistemas sociais, econômicos e políticos. Por sua vez, não é o molde ocidental de integração que resultará numa boa inter-relação entre esses dois mundos. A integração deve ser em aspectos diferenciados, deve-se respeitar suas tradições, onde um posicionamento mantenha suas especificidades culturais face às exigências do desenvolvimento.

Segundo o IEPÉ – Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena, na publicação – “Patrimônio Cultural Imaterial e Povos Indígenas” – (2006, pg. 58),
É por este motivo que se costuma afirmar que os povos indígenas lutam “a favor” e “contra” o desenvolvimento. A favor, quando reivindicam acesso aos serviços básicos de educação e saúde. Contra, quando reivindicam garantias territoriais e procuram explicitar e defender suas diferenças culturais. Mas é também internamente a suas comunidades que ocorrem tensões decorrentes da discriminação a que são submetidos.

Hoje já existem modelos que preservam as ligações culturais, os modos de ensino, na questão da educação, por exemplo, estão sendo moldados de acordo com ações que valorizam os saberes e as práticas tradicionais dos povos. Devendo assim, criar um espaço de interação, resgate e apoio entre as culturas.

A preservação destas culturas são a única fonte de continuidade que se pode ter, pois muito de suas bases já foram perdidas ao longo do tempo. Permitir com que essa diversidade cultural permaneça trará benefícios a todos nós. De acordo com o IEPÉ (2006, pág. 72),
A salvaguarda das tradições orais indígenas, assim como das práticas que lhes são associadas, é um campo novo para as políticas públicas, especialmente no Brasil. Em algumas comunidades indígenas, estão sendo testadas estratégias que programas supranacionais e órgãos nacionais procuram aprimorar com a colaboração de universidades e de organização não governamentais, formando um painel ainda frágil de experimentos muito diversos e, às vezes, contraditórios.

Assim, é notório que precisamos fortificar os laços de preservação. Não podemos simplesmente adotar medidas e procedimentos de conservação iguais para o material e o imaterial. Cuja imaterialidade está em conhecimentos e manifestações culturais, onde o valor reside justamente na capacidade de transformar os saberes e os modos de fazer.

A UNESCO define como a melhor maneira a “salvaguarda”, que consiste em assegurar a viabilidade e a durabilidade do patrimônio cultural imaterial, incluindo sua identificação, documentação, investigação, preservação, além de sua proteção, promoção, valorização, transmissão - e que se dê através do ensino formal e não formal – e a revitalização deste patrimônio em seus diferentes aspectos.